Boicote à China - Um Desabafo

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Qin Gang, afirmou que "qualquer país com um objetivo e com um ponto de vista justo apoiaria as medidas adotadas pela China para manter a estabilidade social e resguardar a vida e as propriedades das pessoas"

Em suas declarações, Qin voltou a acusar o Dalai Lama de estar por trás das revoltas do último dia 14, que segundo a China resultou em 19 mortos, ao contrário das autoridades tibetanas no exílio, que afirmam que o conflito deixou 140 mortos.

O Governo chinês anunciou que mais de 660 participantes das revoltas do Tibete e províncias vizinhas "se entregaram" à Polícia e poderão ser condenados a penas de 10 anos de detenção à prisão perpétua, ou até à morte, de acordo com o código penal chinês.

O portal de troca de vídeos na internet YouTube continua bloqueado na China, depois que de ter recebido vídeos sobre os protestos da semana passada em Lhasa, segundo denunciaram internautas do país asiático. O site do jornal britânico "The Guardian", um dos primeiros que publicou fotos dos protestos, também não está acessível em Pequim, segundo pôde comprovar a Agência Efe.

Conscientes do risco para sua imagem a cinco meses dos Jogos Olímpicos, as autoridades chinesas optaram pela firmeza para enfrentar as manifestações dos últimos dias no Tibete. "Claro que o desafio de manter uma imagem é importante, mas o regime espera que a imprensa esqueça rapidamente, assim como a opinião pública e os chefes de Estado", afirmou Jean-Philippe Béjà, sinólogo e pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais (CERI) de Paris.

"Para eles, a solução mais fácil é seguir com seus velhos métodos: uma repressão violenta seguida de uma pressão política intensa", declarou Kate Saunders, da associação Campanha Internacional para o Tibete.

Para Valerie Niquet, diretora do centro Ásia do Instituto Francês das Relações Internacionais (IFRI), "a China deve encontrar o ponto médio entre não fazer nada e ver como a situação fica ou reagir violentamente prendendo todo mundo e abrindo fogo contra a multidão. De um ponto de vista muito cínico, é verdade que se optarem pela segunda solução, ainda têm cinco meses para limpar sua imagem"".

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É para um lugar desses que atletas sonham em ir e demonstrar o espírito olímpico?

Vale a pena?

Quando chega o momento em que assistimos, impassíveis, monges pacifistas sendo agredidos por soldados armados, temos certeza de que há algo muito errado no mundo.

Se os manifestantes envolvidos nos últimos conflitos no Tibete estão errados, devem ser controlados sim, mas que esse controle seja exercido com as devidas proporções - não se combate monges com metralhadoras e porretes.

Infelizmente a economia chinesa já toma conta de todo o globo. Praticamente não há segmento econômico, nem mesmo o agropecuário, em que não haja alguma influência do mercado chinês. Não há como boicotar a China economicamente.

Mas se eu fosse um dos atletas com índice olímpico, convocado ou não para ir a Beijing representar meu país, a tomar parte em um evento mundial cujo símbolo máximo - os anéis olímpicos- significa a união entre os povos dos 5 continentes, eu me recusaria a ir.

Danem-se as medalhas, o patrocínio, os títulos mundiais, os recordes. De que valem essas coisas se para obtê-las é necessário fechar os olhos ao desrespeito à Vida, à Liberdade, ao Direito?

Acompanhar nos noticiários as atrocidades, as perseguições a dissidentes políticos, intelectuais já não mais causa impacto. Ler as mentiras, as "verdades oficiais" de governos fascistas, repressivos e muitas vezes assassinos, já não mais nos choca.
E isso é o que há de mais triste - a banalização do sofrimento.

Como podem haver líderes mundiais que preferem calar-se perante tais erros apenas para não terem atritos em suas relações econômicas?

Reconheço que não há nada que se possa fazer. Reconheço que um país não pode se meter nos problemas internos de outro. Reconheço que boicotes não surtem efeito a não ser que atinjam o bolso dos boicotados. Mesmo assim, fica um sentimento de que há algo errado, que alguém deveria fazer alguma coisa para mudar as coisas como estão.

Eu sou taoista. Pratico Tai Chi chuan e Dao Wushu. Sempre admirei a cultura chinesa. Mas abomino a China comunista - não por ser comunista, não tenho nada contra quem é, mas por ser comandada por homens que não respeitam a Vida e a Liberdade. Eu nunca irei lá. Nem para as Olimpíadas, nem em outra ocasião.

Quem sou eu? Uma voz na tempestade? Uma gota no oceano? Nada. Ninguém.
Mas são os milhões de "ninguéns" revoltados com as barbáries e injustiças do mundo atual que podem vir um dia a pavimentar a estrada que levará todos a um mundo melhor.

E se não tivermos esperança de que o mundo pode melhorar, então pra quê viver?

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